Acho interessante quando as pessoas glamourizam o ofício do terapeuta, seja psicanalista, terapeuta holístico, psicólogo ou musicoterapeuta e terapeuta sistêmica como eu.
Ninguém “é” terapeuta. Nós precisamos estar em constante processo de tonar-se terapeutas todos os dias. Cada novo cliente é um convite para algo que nos chega trazendo mais aprendizado. E o curioso é que, pela sincronicidade percebida por Jung, as projeções percebidas por Freud, os enredamentos sistêmicos percebidos por Bert Hellinger e a ressonância morfogenética de Ruppert Sheldrake, nossos clientes ou tornam-se clientes mais maduros e conscientes ou os que se recusam a crescer vão embora e novos tipos de clientes chegam. Já não somos mais os mesmos.
E o autoconhecimento profundo é uma linda descoberta que tem um preço que precisa ser escolhido por quem sente o chamado para servir a alma humana. O preço a se pagar é sair da inocência, é olhar com coragem para nossas defesas mais profundas, nossos preconceitos, nossas feridas intensas de abandono, de rejeição, nossas sombras mais nebulosas. O curador ferido do mito de Quíron. É aprender a domar diariamente o ego para não cair na armadilha de ser amado – afinal, como colocar limite e revelar a dinâmica do cliente se posso desagradá-lo? Terapeuta não se senta na cadeira para dar aula de comportamento humano e como o cliente deveria agir para ser mais feliz. Absolutamente!
É acolher todo lixo emocional, as perversidades, as crueldades, as culpas, as responsabilidades e a falta dela também que resultou na dor. Terapia não é pagar para conversar por falta de ter quem te escute. Não é ter um aliado com um olhar maternal ou paternal de alguém.
Ao menos não deveria ser. Aprendi com Bert Hellinger me colocar no lugar que me cabe e acolher o cliente e seu sistema familiar sem responsabilizar sua dinâmica por vezes tóxica pois é a única maneira que posso ajudá-lo, sem vitimizar ou infantilizar.
Ser terapeuta é olhar para um rosto cheio de esperanças de uma jovem cliente em meio a um caos emocional colocando expectativas no seu suposto “saber terapêutico” e frustrá-la amorosamente dizendo que você também não tem as respostas.
Ser terapeuta é perceber o risco eminente de vida na pessoa que se senta à sua frente e não tem a menor consciência que está num relacionamento extremamente violento. É ter calma e empatia para aguardar o cliente inundado de potencial que se boicota por fidelidade a seu sistema familiar. É dar escuta a uma pessoa que acaba de perder um filho e momentaneamente perdeu o sentido de sua vida.
Não há glamour, não pode haver ego, não pode haver sedução para segurar o cliente mais tempo para garantir sua renda mensal, não pode haver inversão de papéis. Terapeuta não pode depender de seu cliente e cliente não precisa depender de seu terapeuta. Relações adultas não tem dependência. Precisamos ser desnecessários assim que possível.
É estranho, não há despedida. E com adultos neuróticos, nem alta há. O processo por si só finaliza. E a gente só observa o voo do cliente de longe. Bem longe. Não somos amigos.
Às vezes são clientes divertidíssimos, inteligentes e engraçadas ou engraçados os quais você facilmente se sentaria num barzinho pra tomar uma gelada junto. Mas não funciona assim. Grande parte fica um carinho com gratidão pela troca. Outros desaparecem. Mas a gente se lembra! Pois era um trabalho para nós, que envolveu responsabilidade e preparo.
E à medida que os anos vão passam, vamos ficando cada vez mais velhos, mais seletivos para assuntos aleatórios, mais livres e aos olhos dos outros talvez mais chatos e loucos, porque já não se preocupa mais com o que os outros vão pensar sobre o nosso pensar e fazer.
Sobre mim, venho ressoando na solitude, conversando com minhas consciências, minhas angústias, com as plantas, os animais, as entidades, meus ancestrais, minhas músicas e co-criando minha realidade..bem doida! Em sintonia com a minha Vida e ajudando pessoas que queira sintonizar com suas Vidas também. Esse é meu ofício!
De terapeuta para terapeuta, eu vou adorar conversar com você sobre isso. Só porque nós amamos demais o que fazemos! Esse é nosso sacerdócio!
(Roberta Barsotti)